Barra Velha, cidade ao Norte do litoral de Santa Catarina, está vivenciando uma crescente onda de arrombamentos e furtos, que tem deixado moradores e veranistas em estado constante de insegurança, apreensão e medo.
Casas sendo invadidas durante a madrugada ou até mesmo a luz do dia, por ladrões, muitas vezes em situação de rua ou criminosos reincidentes, têm sido uma realidade cada vez mais frequente. A sensação de vulnerabilidade tem marcado a vida de quem escolheu a cidade para viver ou passar férias, transformando o sonho de construir uma casa na praia em um pesadelo de insegurança.
Para os moradores, a rotina passou a incluir grades, câmeras de segurança, alarmes caros e ainda assim, nada parece ser suficiente para garantir a proteção de suas casas. Com o aumento da violência, muitos se sentem prisioneiros dentro de suas próprias residências, temendo que, ao saírem para o trabalho ou lazer, ao retornarem, encontrem suas casas saqueadas.

O relato da moradora
Uma moradora de Barra Velha, que preferiu não ser identificada, relatou sua amarga experiência com os constantes arrombamentos. A última invasão ocorreu na noite de quinta-feira, 27 de março, quando os criminosos conseguiram desativar todo o sistema de segurança da casa, levando uma televisão e até mesmo uma botija de gás cheia.

Na manhã dessa sexta-feira, 28 de março, os ladrões retornaram. Aproveitaram o momento para tomar banho, comer e trocar de roupa. “Só não levaram mais itens porque os vizinhos, após eu pedir ajuda via WhatsApp, foram até lá, perceberam a movimentação e gritaram do lado de fora, fazendo com que os criminosos fugissem a tempo”, conta a proprietária da casa.

A importância do grupo de WhatsApp ‘Rede de Vizinho’
A moradora destaca a importância do grupo de WhatsApp “Rede de Vizinhos” para sua segurança, especialmente após enfrentar diversos arrombamentos e furtos na casa. “Apesar de termos câmeras de segurança e alarmes, os criminosos frequentemente conseguem desativar esses sistemas, causando grandes prejuízos. No entanto, graças à agilidade e solidariedade dos vizinhos, que rapidamente reagem e ajudam a espantar os bandidos, conseguimos evitar perdas maiores”.
Ainda quanto aos arrombamentos seguidos de furto, a veranista que mora em Jaraguá do Sul, proprietária do imóvel, já havia sido vítima de furtos em outras cinco ocasiões. Na primeira, o prejuízo foi de R$ 12 mil, mas os danos continuam a crescer.
“Como moro em Jaraguá não consigo acionar o auxílio da Polícia Militar via 190, então recorro aos vizinhos, e quanto aos boletins de ocorrência, vários já foram feitos, mas ainda não recebemos respostas da Polícia Civil quanto a recuperação dos nossos bens ou identificação dos ladrões”, ressalta a vítima.
Ela descreve a angústia de ver seus bens sendo roubados repetidamente, mesmo com o uso de câmeras de segurança e alarmes – equipamentos que, por vezes, são desativados pelos próprios criminosos. Ao todo, em todas as ocasiões, o prejuízo ultrapassa facilmente os R$ 15 mil.
Ela acredita que um dos maiores problemas é o terreno baldio localizado ao lado de sua casa. Esse terreno, com muito mato, tem sido utilizado como esconderijo pelos criminosos, facilitando a ação dos ladrões. Apesar de várias tentativas de resolver o problema com o proprietário do terreno, a situação persiste.
Questionamentos à Polícia Militar
Diante do aumento da criminalidade, a reportagem do portal danimeller.com entrou em contato com o comandante da Polícia Militar de Barra Velha, Tenente Pedro Guerra, para saber quais medidas estão sendo adotadas para combater os crimes.
O comandante explicou que a PM está levantando informações sobre as ocorrências e que, conforme o volume de crimes em determinadas áreas, as rondas ostensivas serão intensificadas. No entanto, ele reiterou que, para contato, o número 190 é o único canal disponível para solicitações urgentes. Uma alternativa seria o aplicativo PMSC Cidadão, mas o 190 continua sendo a principal forma de comunicação com a PM.
“Sobre o aplicativo PMSC Cidadão, já precisei algumas vezes, como alternativa ao 190, e nunca consegui abrir uma ocorrência ou chamar os policiais. Gostaríamos de verdade que na prática esses recursos funcionassem, mas infelizmente a realidade é outra. Aqui no bairro temos várias mães solos como eu, e dá até um desespero morar aqui sem ninguém para ajudar. E quando falamos em ajuda, é se referindo a obrigação das forças de segurança, eles são treinados, preparados e trabalham armados”, disse outra moradora do Centro.
Ela que já teve o portão de casa furtado por moradores em situação de rua, relatou outro episódio que lhe causa frustração com a falta de resposta da polícia quando acionada. “Eu estava cozinhando, por volta das 11h, e vi quando um homem estava tentando pular meu muro. Ele falou que estava fugindo da polícia, mas não parecia assustado. Liguei para o 190 e uma atendente garantiu que a viatura estava a caminho. No entanto, apesar de fornecer o endereço corretamente, até hoje estou aguardando a chegada da viatura, que nunca apareceu, mesmo após seis meses do ocorrido”.

Questionamentos à Polícia Civil
A reportagem também buscou informações junto à Polícia Civil, questionando sobre o aumento dos arrombamentos e a subnotificação dos crimes, devido às dificuldades para registrar ocorrências.
Em outra situação, envolvendo uma terceira vítima, a moradora em questão, por exemplo, enfrentou problemas com o sistema online da PC, que não permitia o registro do endereço de sua casa. Além disso, o horário restrito de funcionamento da delegacia, que só atende no período vespertino, dificulta ainda mais o processo.
Em resposta, a Polícia Civil esclareceu que as delegacias de comarca, exceto as Centrais de Plantão, têm atendimento ao público apenas à tarde. A equipe também orientou a moradora a encaminhar os problemas com o sistema de registro para a ouvidoria, para uma análise mais detalhada.
A investigação sobre os furtos e roubos está em andamento, com suporte da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Itajaí. A policial ainda ressaltou que a mudança de endereço da delegacia está em andamento, mas ainda não há detalhes sobre a ampliação do horário de atendimento.

O problema do terreno baldio
O ponto crítico é o terreno baldio ao lado da casa da moradora. Este local tem sido usado como esconderijo por criminosos e, muitas vezes, para guardar os produtos furtados. O proprietário do terreno garantiu à reportagem que já contratou um profissional para limpar o local, mas não soube informar quando exatamente a limpeza será realizada.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Barra Velha questionando as ações de fiscalização, notificações e multas a proprietários que não fazem a adequada limpeza de seus terrenos, e aguarda uma resposta.

Um cenário de insegurança crescente
O relato da moradora é apenas um exemplo do que muitos em Barra Velha estão enfrentando. Moradores e veranistas têm se sentido cada vez mais vulneráveis, vendo seus bens e sonhos destruídos por criminosos.
“Moro aqui desde que nasci, há mais de 50 anos, e posso garantir que nunca vivemos uma onda tão grande de insegurança, não bastasse agora a quantidade absurda de moradores de rua chegando e se instalando por todos os locais em Barra Velha, temos também a falta de ações contra quem financia os furtos de alumínio e cobre. Os furtos só existem porque tem quem compra esses produtos”, reclamou outro morador.
A situação exige uma resposta rápida e efetiva das autoridades, com mais ações de prevenção, intensificação das rondas policiais, bem como um controle mais rigoroso por parte da prefeitura sobre terrenos baldios, ferros-velhos e outras áreas que possam estar servindo de abrigo para os criminosos.
