Paris, 6 de dezembro de 2024 – O tão aguardado acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, anunciado oficialmente nesta sexta-feira (6) em Montevidéu, segue em águas turbulentas. A presidência da França declarou que o acordo, embora tenha concluído sua fase de negociações sob a responsabilidade da Comissão Europeia, continua sendo “inaceitável” em seu estado atual, e que ainda está longe de ser uma realidade.
“A Comissão concluiu suas negociações com o Mercosul, que é de sua responsabilidade, mas o acordo não foi assinado nem ratificado. Portanto, este não é o fim da história. O acordo com o Mercosul não entrou em vigor”, destacou o governo francês.
A França, tradicionalmente um dos maiores obstáculos ao fechamento do acordo, sustenta sua posição principalmente devido à pressão dos agricultores franceses, que temem que a entrada de produtos do Mercosul a preços mais competitivos possa prejudicar a economia agrícola do país. Embora a França tenha se mostrado firme na oposição, a oposição sozinha não seria suficiente para barrar o acordo no Parlamento Europeu, onde é necessário o apoio de países que representem pelo menos 35% da população da UE para bloquear qualquer acordo.
Posição do presidente francês e apoio espanhol
O presidente francês, Emmanuel Macron, já se posicionou contra o acordo, alinhando-se com o sentimento de setores agrícolas que consideram que a liberalização do comércio poderá prejudicar a produção local, especialmente no que se refere à carne bovina e outros produtos alimentícios.
Por outro lado, a Espanha se mostra favorável ao acordo. O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, celebrou o avanço das negociações e anunciou em suas redes sociais: “Hoje, a União Europeia conseguiu concluir um acordo histórico com o Mercosul para construir uma ponte econômica sem precedentes entre a Europa e a América Latina”. Sánchez enfatizou que a abertura do comércio com os países da América Latina poderia fortalecer a União Europeia e tornar os países mais prósperos.
A Espanha tem sido um dos principais aliados do Mercosul, especialmente em meio à forte oposição da França e de outros países, como a Polônia. Para que o acordo entre em vigor, é necessária a aprovação de pelo menos 15 dos 27 países membros da UE. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se mostrou otimista, destacando a importância do acordo para as relações comerciais entre a Europa e a América Latina.
Próximos passos e desafios pela frente
O acordo com o Mercosul, que envolve Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, é considerado um dos maiores acordos comerciais já negociados pela União Europeia. Entretanto, apesar de um avanço significativo, ainda há obstáculos legais e políticos a serem superados, especialmente em relação às objeções de países como a França.
Embora a conclusão das negociações tenha sido anunciada como um marco histórico, o texto final do acordo ainda precisa ser aprovado por maioria no Conselho da União Europeia, onde pelo menos 15 países devem dar o sinal verde. Enquanto isso, o debate continua intenso dentro da UE, com alguns países defendendo a importância de fortalecer as relações com os mercados latino-americanos, enquanto outros, como a França, permanecem firmes em sua oposição.
Em resumo, enquanto a negociação do acordo de livre comércio com o Mercosul foi concluída, a sua efetivação ainda está longe de ser garantida, com a França reiterando sua posição e a necessidade de mais diálogo e negociação antes de qualquer assinatura definitiva.