O Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril, vai muito além de uma simples data no calendário. Trata-se de um marco de resistência, ancestralidade, diversidade cultural e espiritualidade. É uma oportunidade para reconhecer a importância histórica e atual dos povos originários do Brasil, valorizar sua cultura e reafirmar a necessidade de respeito e inclusão na sociedade contemporânea.
Uma história invisibilizada, mas essencial
Os povos indígenas foram os primeiros habitantes do território que hoje é o Brasil, muito antes da chegada dos colonizadores em 1500. Eles preservam saberes milenares, línguas próprias, tradições únicas e uma profunda conexão com a natureza. Ao longo da história, esses povos sofreram com a perda de terras, a violência, o apagamento cultural e o preconceito. Ainda assim, resistem com força e dignidade.
Atualmente, segundo o Censo Demográfico de 2022 realizado pelo IBGE, o Brasil abriga mais de 1,69 milhão de indígenas, pertencentes a cerca de 305 etnias, que falam mais de 270 línguas indígenas. Esses povos estão espalhados por todo o território nacional, vivendo tanto em terras indígenas quanto em áreas urbanas.
Cultura viva: do artesanato ao axé
A cultura indígena brasileira é rica, vibrante e extremamente diversa. Vai do artesanato tradicional, feito com sementes, fibras, barro e madeira, até danças, cantos, culinária e festividades espirituais que atraem a curiosidade e admiração de turistas do mundo todo. A arte indígena não é apenas expressão estética — é história viva e resistência, transmitida de geração em geração.
Essa cultura, inclusive, dialoga fortemente com outras tradições, como as religiões de matriz africana. Há uma proximidade espiritual e simbólica entre povos indígenas e o candomblé, a umbanda e outras práticas do chamado “axé”, especialmente nas crenças ligadas à natureza, aos orixás e ao respeito aos ciclos da vida. Em muitos terreiros, entidades como o caboclo e o pajé são manifestações espirituais de origem indígena, celebrando essa conexão ancestral e sincrética.

Economia da identidade
O artesanato indígena, por exemplo, tem papel importante na economia criativa do país. É comum que produtos indígenas sejam vendidos em feiras, centros culturais e aeroportos, sendo muito valorizados por turistas estrangeiros, que buscam levar consigo uma parte autêntica da cultura brasileira. Essa produção não apenas movimenta a economia local, mas preserva práticas culturais e gera renda para comunidades indígenas, especialmente em regiões do Norte, Centro-Oeste e Nordeste do país.
Respeito é o mínimo
Mais do que celebrar, o Dia dos Povos Indígenas é um chamado à reflexão e respeito. Ainda hoje, muitos indígenas enfrentam racismo, violência, invasões de terras, preconceito religioso e negação de direitos básicos. É papel de todos os cidadãos — indígenas ou não — reconhecer que o Brasil é um país pluricultural e pluriétnico, e que a diversidade não enfraquece a nação, mas a fortalece.
Proteger os povos indígenas é proteger o futuro do Brasil. É reconhecer que eles são guardiões de biomas como a Amazônia, que detêm saberes sobre a cura, sobre o tempo e sobre o mundo que muitas vezes a sociedade moderna insiste em ignorar.
Uma data para lembrar… e agir
O 19 de abril não é apenas uma data simbólica. É um convite à ação. A aprender com os povos indígenas, a ouvir suas vozes, a respeitar seus espaços e a lutar por políticas públicas que garantam terra, saúde, educação e dignidade.
Como ensina a sabedoria indígena, “a terra não nos pertence, nós pertencemos a ela”. Que esse ensinamento ecoe em todos os cantos do país — nas escolas, nas praças, nas políticas e nas consciências — para que o Brasil finalmente reconheça a grandeza dos povos que aqui estavam muito antes de existir a ideia de Brasil.