Quem lê essa história pode até não acreditar ou achar que é enredo de filme, mas, de fato aconteceu e foi registrada na pequena cidade de São Cristóvão do Sul, no Meio Oeste de Santa Catarina e envolveu pelo menos uma dezena de policiais de diversas cidades para esclarecer todos os fatos e revelar a verdade de uma sequência de crimes macabros.
Tudo começou neste mês de fevereiro com o suposto desaparecimento do empresário Edilson Paulo Petter, de 41 anos de idade, que trabalhava com ‘energia solar’. Ameaçado por funcionários insatisfeitos e procurado por clientes que teriam sofrido prejuízos devido a golpes, Edilson se viu num beco sem saída e resolveu planejar o que para ele seria o crime perfeito: ‘simular a própria morte’ e desaparecer da vista de todos.

Segundo a Delegada Regional, Roxane Fávero Pereira Venturi e o coordenador da Delegacia de Investigação Criminal (DIC) Fabiano Rizzatti Toniazzo, de Curitibanos, responsáveis pela investigação que desvendou um crime nada perfeito carregado de muita maldade, no dia 13 de fevereiro deste ano, o desaparecimento de Edilson em São Cristóvão do Sul, foi oficializado pelos familiares que o teriam visto no dia anterior (12).
No dia 15, como parte do plano assustador, frio e calculista, uma caminhonete S10 pertencente a Edilson, foi encontrada queimada e dentro a polícia encontrou um corpo totalmente carbonizado. “Inicialmente as informações apontavam que o corpo poderia ser do então desaparecido”, explicou a delegada.
Provavelmente, na cabeça de Edilson e de pelo menos um comparsa, para a polícia, o desaparecimento dele, seguido da localização da camionete com um corpo carbonizado, seria tratado como ‘homicídio por vingança ou acerto de contas’.
Porém, para colocar ainda mais por terra os planos e o que provavelmente eles não esperavam, era de que confirmação da identidade da vítima se daria apenas por meio de exame de DNA, fato informado pela polícia durante as investigações.
ANDARILHO – Após o corpo ter sido encontrado dentro da camionete, as investigações tomaram outro rumo, porque antes disso, Edilson teria sido visto ‘inúmeras vezes’ nos dias seguintes ao “desaparecimento”, na companhia de um comparsa (até aquele momento não identificado), tranquilamente transitando na região usando a própria camionete.
Testemunhas afirmaram ainda, ter vendido a eles, gasolina e álcool nos dias anteriores ao encontro do corpo carbonizado.
E, segundo investigações realizadas pelas equipes de inteligência da DIC, entre os dias 12 e 13 de fevereiro, também como parte do plano, Edilson e o cumplice, que tem passagens na polícia inclusive por homicídio, foram vistos conversando com vários moradores de rua nos municípios da região de Curitibanos e Santa Cecília.
Com isso, a polícia confirmou o desaparecimento de Vanderlei Weschenfelder, de 59 anos, visto pela última vez no dia 12 em São Cristóvão do Sul, e confirmou como sendo dele, o corpo carbonizado na camionete.

Cientes de que a polícia iria chegar a verdadeira identidade da vítima encontrada na camionete, dessa vez os criminosos foram mais além: simularam o sequestro de Edilson.
SEQUESTRO E TORTURA – Para de fato dar credibilidade e legitimidade a privação da liberdade na qual estaria passando, ele foi torturado e mutilado pelo cumplice, quando teve parte de um dos dedos decepados e dentes arrancados.
Mas, para a história ficar ainda mais real aos olhos da polícia e dos próprios familiares e amigos, toda a tortura e mutilação foi gravada e as imagens chegaram até a imprensa e a polícia, que deu início às investigações. E, na casa da namorada foi jogado o dedo e os dentes como ‘prova de vida’.

Porém, nesse meio tempo, além de não se preocupar em transitar pela cidade, Edilson se descuidou ainda mais, resolveu buscar atendimento numa unidade de saúde da região para suturar o dedo amputado.
Com isso, a polícia que já estava ciente da possibilidade de tudo não passar de mais um golpe, agora tinha como meta localizar o paradeiro dos envolvidos e contra eles solicitada a Prisão Preventiva.
GOLPE – Paralelo as investigações do desaparecimento de Edilson e a morte do andarilho no Meio Oeste Catarinense, no Norte do estado as equipes da Polícia Civil de Joinville investigavam um golpe que afetou uma fábrica de painéis solares localizada no bairro Pirabeiraba, em Joinville, que resultou na aquisição ilegal de produtos no valor aproximado de R$300.000,00.
Com o apoio das Delegacias de Homicídios, Caçador, Curitibanos, além da 1ª e 6ª Delegacia de Polícia de Joinville, no dia 25 os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão relacionados a um esquema de estelionato envolvendo a falsificação de dados cadastrais e a abertura fraudulenta de financiamento bancário foram cumpridos e as investigações apontaram a participação de Edilson no esquema criminoso.

De acordo com o delegado Rodrigo Bueno Gusso, responsável pela investigação, os criminosos utilizaram informações falsas para solicitar um grande pedido de equipamentos de energia solar junto à empresa. Após a liberação da mercadoria, os produtos foram transportados para as cidades de Rio das Antas e São Cristóvão do Sul, onde os criminosos tentaram ocultá-los.
No decorrer dos últimos dias, os policiais civis, através de um trabalho coordenado e eficaz, conseguiram localizar e recuperar a carga de produtos adquiridos de forma ilícita.
A ação, que envolveu uma intensa troca de informações entre as equipes de diferentes regiões, foi fundamental para evitar maiores prejuízos à vítima e para a proteção de empresas da comunidade de Joinville e outras cidades.
O delegado Gusso destacou que a operação foi bem-sucedida graças ao empenho e profissionalismo das equipes de investigação, que conseguiram traçar uma linha do tempo precisa sobre o crime e identificar os envolvidos. “A dedicação de todos os policiais envolvidos foi crucial para a recuperação dos produtos e para que crimes como esse não continuem prejudicando nossa comunidade”, afirmou o delegado.
PRISÃO – E na tarde dessa sexta-feira, 28, exatos 16 dias após o suposto desaparecimento de Edilson, com o apoio de equipes de Blumenau e Itajaí, ele e o comparsa foram presos na cidade de Navegantes.
