O presidente da AstraZeneca na China, Leon Wang, foi preso na semana passada pelas autoridades chinesas, em um desdobramento que envolveu investigações sobre práticas empresariais potencialmente ilegais. A gigante farmacêutica confirmou a prisão de Wang em um comunicado ao Financial Times e à agência de notícias AFP.
Além de Wang, outros três executivos da empresa, incluindo dois atuais e um ex-executivo, também estão sendo investigados em um caso que envolve a coleta ilegal de dados e a importação e venda irregular de medicamentos.
O caso está sendo tratado com grande atenção, dado o impacto da AstraZeneca na indústria farmacêutica global e seu papel crucial no fornecimento de vacinas contra a Covid-19, particularmente a vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. A prisão de Wang e a investigação de outros membros da empresa ocorrem em um momento delicado para o grupo, que tem a China como um mercado-chave.
Investigação sobre Coleta de Dados e Medicamento Ilegal
De acordo com fontes do Financial Times, a investigação está centrada principalmente em duas questões: a coleta de dados potencialmente ilegais e a importação de medicamentos contra o câncer sem a devida autorização do governo chinês. O medicamento em questão é o Imjudo, utilizado no tratamento de certos tipos de câncer, que ainda não foi aprovado na China, embora seja aprovado em outros mercados internacionais.
O Imjudo é frequentemente utilizado em combinação com outro medicamento da AstraZeneca, o Imfinzi, em terapias para pacientes com câncer de fígado avançado. A suspeita é de que o medicamento tenha sido importado ilegalmente de Hong Kong para a China, o que configura uma violação das normas sanitárias do país.
A prisão de Leon Wang e os desdobramentos da investigação aumentam a pressão sobre a AstraZeneca, que já enfrenta desafios relacionados à conformidade regulatória na China. O grupo farmacêutico havia confirmado em setembro que vários de seus funcionários estavam sob investigação no país, após surgirem notícias de que estariam sendo questionados por suas ações relacionadas à coleta de dados e à importação irregular de medicamentos.
Histórico de Problemas na China
Este não é o primeiro problema da AstraZeneca na China. Entre 2020 e 2021, cerca de 100 vendedores da empresa foram punidos por fraude, após falsificarem resultados de testes genéticos de pacientes. Essas falsificações visavam possibilitar que pacientes que, de outra forma, não seriam elegíveis, pudessem obter o seguro estatal para o medicamento, comprometendo a integridade do sistema de saúde local.
As autoridades chinesas têm se mostrado cada vez mais rigorosas em suas investigações de empresas estrangeiras operando no país, especialmente no setor farmacêutico, devido a preocupações com a segurança dos medicamentos e a proteção de dados pessoais. A situação de Wang, que foi preso, parece seguir esse padrão de endurecimento das leis e regulamentos, impactando diretamente a operação de empresas globais que dependem do vasto mercado chinês.
Repercussão e Próximos Passos
A prisão de Leon Wang gerou um grande repercussão no setor farmacêutico, com investidores e observadores do mercado aguardando por mais informações sobre os desdobramentos do caso. A AstraZeneca, por sua vez, afirmou que está cooperando plenamente com as autoridades chinesas e que continuará a trabalhar para resolver a situação. Embora a empresa tenha garantido sua colaboração, a prisão de Wang e a investigação em curso podem prejudicar sua imagem e operação na China, um mercado vital para o crescimento da farmacêutica.
O ex-executivo da AstraZeneca ainda não se pronunciou publicamente sobre a prisão, e as autoridades chinesas também não divulgaram muitos detalhes sobre as acusações formais. O caso continua sendo acompanhado de perto, especialmente em um momento em que a confiança na indústria farmacêutica global está em jogo devido à complexidade das questões envolvendo dados e importação de medicamentos.
À medida que a investigação avança, os olhos do mercado estarão voltados para como a AstraZeneca lidará com essas acusações e as possíveis implicações para suas operações na China e globalmente.