A violência contra a mulher, independente das ações de prevenção das autoridades competentes, a exemplo das Medidas Protetivas com a disponibilização do Botão do Pânico monitorado pela Polícia Miliar, para as vitimas que denunciam os abusos e violências na Polícia Civil, não têm sido suficientes para impedir que a lista de feminicídio cresçam a cada dia no Estado de Santa Catarina e no Brasil.
Em Araranguá, no Sul do Estado, mais uma mulher acabou morrendo, sem chance de defesa, após ser estrangulada pelo ex-marido, com quem infelizmente ainda convivia na mesma residência. Eliane dos Santos Gonçalves, de 55 anos, foi encontrada morta na casa onde outrora viveu momentos ‘felizes’ ao lado do marido com quem acreditou ser o ‘amor de sua vida’.
O crime que chocou a pequena comunidade, ocorreu na rua da República no bairro Arapongas, no final da tarde de sexta-feira, 26. A Polícia Civil, sob a coordenação do delegado André, assumiu a condução das investigações para elucidar as circunstâncias que levaram à morte de Eliane.
Conforme resultados da necropsia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte foi determinada como asfixia por estrangulamento.
O suspeito, após confessar o crime às autoridades, foi ouvido e liberado e saiu tranquilamente pela porta da frente da delegacia, tendo em vista que não se encontrava em uma situação de flagrante delito no momento da abordagem policial. “Fui ao velório dela”, contou ele.
As autoridades responsáveis, no entanto, estão tomando todas as medidas legais cabíveis. Um pedido de prisão foi encaminhado ao poder judiciário, enquanto a investigação segue em andamento, agora sob a responsabilidade da delegacia de polícia local, que tem o prazo de 10 dias para concluir as averiguações e apresentar as conclusões do caso.
“Por mais que ele seja preso, enfrente um processo, seja condenado, nada vai trazer ela de volta. Infelizmente apesar dos esforços das autoridades, a Lei ainda é muito branda e os homens abusivos sabem disso. Uns ainda são presos, e aqueles que conseguem fugir, driblar a polícia”?, desabafou uma mulher que vive situação semelhante.
RELAÇÃO – No decorrer das investigações, a polícia levantou que Eliane vivia na mesma casa que o ex-companheiro, com quem teve uma relação marcada por desavenças verbais constantes após o término da relação.
Apesar de encerrada, a relação persistia em um convívio tenso e conflituoso, culminando em um ato de violência fatal após uma discussão, onde o ex-companheiro aplicou um golpe de mata-leão. O histórico de violência doméstica já registrado entre o casal adiciona uma camada de complexidade ao caso que agora depende das investigações.
Uma vítima de violência entrevistada pelo Portal contou à reportagem: “Vivi cinco anos com meu ex, uma relação que parecia ser a última até o fim dos meus dias. Mas no decorrer decidi dizer não, o primeiro durante todo esse tempo, para uma decisão tomada por ele. Esse “não” foi o suficiente para ele fazer da minha vida um inferno”, desabafou.
A vítima continuou: “Decidimos nos separar, no início ele até aceitou, depois veio à tona um homem controlador. Mesmo estando separados, ele instalou rastreador no meu carro, câmeras de vigilância com captação de áudio, raqueou meu celular e se sentindo dono a todo custo definia o que eu podia fazer, com quem me relacionar, onde ir, como se meu dono fosse, isso tudo porque infelizmente somos obrigados viver na mesma casa, por questões financeiras que muita gente não entende”.
Hoje, segundo a entrevistada, o ex se encontra preso por outro motivo, mas como a prisão ocorreu após o pedido de Medida Protetiva solicitado à justiça, que encontrou um mandado de prisão contra ele, o medo aumentou. “Ele prometeu que tão logo saia do presídio irá me matar. Mas o que eu vou fazer? Abandonar minha casa, minhas coisas? Ir para onde? Fugir? Abandonar tudo que ajudei construir? Ele está preso por um erro dele, não meu. Será que os homens não conseguem apenas seguir em frente, recomeçar? Eles não entendem que não somos propriedade deles”?
Quanto a MP e o Botão do pânico disponibilizados à vítima ela concluiu: “Moro distante cerca de 5 minutos do Batalhão da PM. Mas se ele invadir a casa e me pegar dormindo, me estrangular como foi o caso recente contra a Eliane, vou conseguiu acionar o Botão do Pânico? Vou conseguir me defender? A MP vai me salvar? Com certeza não. Acho que os homens denunciados pelas vítimas devem passar por um processo de recuperação psicológica, ajuda profissional. Em muitos casos são machistas e a violência, o poder, o controle, está no sangue. Não basta apenas punir, tem que curar”.